sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Crônicas Publicadas - 007/2020




Um Cadin de Mineirês

De que nós mineiros temos um modo muito peculiar de falar, o resto do mundo sabe, atesta e passa recibo, mas é preciso ressaltar que existem expressões e palavras que só sendo mineirim para entender. À medida em que adentramos os confins das Gerais, essa diferença aumenta um mucadinho. O mineiro não anda em calçadas, mas toda boa mãe mineira sabe que precisa recomendar aos filhos pequenos ao saírem de casa:

− Óia lá, hem? Cê num sai do passeio não! E óia pros dois lados antes de travessar a rua.

Quitanda, que é para a grande maioria dos brasileiros, um estabelecimento comercial, é para nós algo que nossas avós e mães faziam, pelo menos de quinze em quinze dias, nos antigos fornos de cupim, para os lanches (tira ou quebra-jejum, merenda e ceia) da família e convidados.
O tradicional copo paulistinha ou Nadir Figueiredo, aqui tem outro nome, como atesta nosso amigo, Velho Horácio, o Sofredor:

− Oh sô moço, num faço questan de marca de cerveja. Se tivé gelada e no copo lagoinha, tá bão!

Ao cumprimentar um mineiro do interior você obterá uma infinidade de respostas: “tô aqui duma banda”, “tô pelejano”, “tô penano e durano”, “bem! E vós?”, “meia pedra e meio tijolo”, “maisomeno mar mar”... Se algum mineiro lhe disser que “é ali, mês...” esteja atento, pode não ser tão ali assim, no entanto, se ele lhe disser: “é pirtim, um tirim de espingarda” prepare-se para uma boa viagem. Mas se for longe de fato, daí sim, é “sete cabos de machado pra baixo dusinferno”.  Em Conceição do Mato Dentro ao norte chamamos de o lado de baixo, como as chuvas normalmente vem da direção norte, da minha Tapera querida, “mode quê, chuva certa mês é a que vem de baixo. Do lado de cima, arma arma, faz baruio, mas dá só um sirinim”.  Provavelmente sejao único lugar onde acontece esse raríssimo fenômeno meteorológico: chover de baixo para cima.
Aqui, quando um “bebo tá amolano no buteco”, o dono do estabelecimento lhe diz logo:

− Bebeu, cuspiu; pagou, sumiu! Té logo e tal!

Aliás, para se despedir de alguém que não está nos agradando seja pela companhia ruim ou quando só queremos um dedo de prosa e o sujeito extrapola, sobretudo no uso de palavras feias, a gente diz: “vai varano”, “vai dizeno, vai dizeno!”, “quebra a esquina. Digero, viu?”  E, nessas bandas, “angu e o torresmo, o gosto é o mesmo. Quarquer cuscus tem quejo.  Cuspiu lambeu, trabaiô recebeu”.  E a melhor delas, o famoso nóóóóó! que corresponde, i o seguinte:

Valei-me Nossa Senhora da Aparecida!

Crônica UM CADIM DE MINEIRÊS publicada na antologia BEM-ME-QUER, MALMEQUER - CONTOS DE AUTORES BRASILEIROS - Edição 2019 - pags. 25 e 26 - Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) - Rio de Janeiro (RJ) - junho/2019.



7 comentários:

  1. Uai sô! E num é que me identifiquei! Kkkk

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  2. Adooro o Mineirês. Mas o nóóóóó é dimais. Se vc publicasse um dicionário "Mineirês",eu compraria o primeiro exemplar. Os mineiros são ímpares. Abraços paulista escritor mineiro.♥️

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  3. Lindissimo!!Alguns palavriados idênticos ao meu sertāo.

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  4. É sempre bom aprender, abraços poeta.

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  5. Muito bem feita! Fiel escudeiro do montês, risos. Parabéns!

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