Um Cadin de Mineirês
De que nós mineiros temos um modo muito peculiar de
falar, o resto do mundo sabe, atesta e passa recibo, mas é preciso ressaltar
que existem expressões e palavras que só sendo mineirim para entender. À medida em que adentramos os confins das
Gerais, essa diferença aumenta um mucadinho.
O mineiro não anda em calçadas, mas toda boa mãe mineira sabe que precisa
recomendar aos filhos pequenos ao saírem de casa:
− Óia lá, hem? Cê
num sai do passeio não! E óia pros dois lados antes de travessar a rua.
Quitanda, que é para a grande maioria dos
brasileiros, um estabelecimento comercial, é para nós algo que nossas avós e
mães faziam, pelo menos de quinze em quinze dias, nos antigos fornos de cupim,
para os lanches (tira ou quebra-jejum, merenda e ceia) da família e convidados.
O tradicional copo paulistinha ou Nadir Figueiredo,
aqui tem outro nome, como atesta nosso amigo, Velho Horácio, o Sofredor:
− Oh sô moço, num
faço questan de marca de cerveja. Se tivé gelada e no copo lagoinha, tá bão!
Ao cumprimentar um mineiro do interior você obterá
uma infinidade de respostas: “tô aqui
duma banda”, “tô pelejano”, “tô penano e durano”, “bem! E vós?”, “meia pedra e
meio tijolo”, “maisomeno mar mar”... Se algum mineiro lhe disser que “é ali, mês...” esteja atento, pode não
ser tão ali assim, no entanto, se ele lhe disser: “é pirtim, um tirim de espingarda” prepare-se para uma boa viagem.
Mas se for longe de fato, daí sim, é “sete
cabos de machado pra baixo dusinferno”. Em Conceição do Mato Dentro ao norte chamamos
de o lado de baixo, como as chuvas
normalmente vem da direção norte, da minha Tapera querida, “mode quê, chuva certa mês é a que vem de baixo. Do lado de cima, arma
arma, faz baruio, mas dá só um sirinim”. Provavelmente sejao único lugar onde acontece
esse raríssimo fenômeno meteorológico: chover de baixo para cima.
Aqui,
quando um “bebo tá amolano no buteco”,
o dono do estabelecimento lhe diz logo:
− Bebeu, cuspiu;
pagou, sumiu! Té logo e tal!
Aliás, para se despedir de alguém que não está nos
agradando seja pela companhia ruim ou quando só queremos um dedo de prosa e o sujeito extrapola, sobretudo no uso de palavras feias, a gente diz: “vai varano”, “vai dizeno, vai dizeno!”,
“quebra a esquina. Digero, viu?” E,
nessas bandas, “angu e o torresmo, o
gosto é o mesmo. Quarquer cuscus tem quejo. Cuspiu lambeu, trabaiô recebeu”. E a melhor delas, o famoso nóóóóó! que corresponde, i o seguinte:
− Valei-me Nossa Senhora da Aparecida!
Crônica UM CADIM DE MINEIRÊS publicada na antologia BEM-ME-QUER, MALMEQUER - CONTOS DE AUTORES BRASILEIROS - Edição 2019 - pags. 25 e 26 - Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) - Rio de Janeiro (RJ) - junho/2019.
Maravilhoso
ResponderExcluirUai sô! E num é que me identifiquei! Kkkk
ResponderExcluirAdooro o Mineirês. Mas o nóóóóó é dimais. Se vc publicasse um dicionário "Mineirês",eu compraria o primeiro exemplar. Os mineiros são ímpares. Abraços paulista escritor mineiro.♥️
ResponderExcluirLindissimo!!Alguns palavriados idênticos ao meu sertāo.
ResponderExcluirMaravilhoso
ResponderExcluirÉ sempre bom aprender, abraços poeta.
ResponderExcluirMuito bem feita! Fiel escudeiro do montês, risos. Parabéns!
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