domingo, 1 de dezembro de 2019

Causos Publicados do Mês - 005/2019



Boi Rosado (BH) -Foto: Gleide Fagundes

A Filosofia de Minha Gente

A Crucifixão

Uma amiga de família, em estado de segunda viuvez, uma renca de filhos de cada matrimônio, netos, estava de namoro com aquele que a deixaria viúva pela terceira vez – decerto a dona era ascendente da menina veneno. Comeu, morreu! – e engravidou. Na roça dos anos 70, aquilo era coisa de emprenhar raposa e ainda sobrar coisa. Pois bom, meu avô, uma espécie de Freud misturado a juiz de paz e conselheiro, chamou-a na responsabilidade:
− Com efeito Maria, a senhora nest’idade, viúva, vó de netos! Comeno a merenda antes do recreio? Cê num tem juízo, não? Tá doida ou doido mijô ni sua cabeça?
No que a nossa candidata a triúva, responde com a cara de cachorro que quebrou panela:
− Sabe o quié, Sô Chico. Eu tava l’em casa barriano uma parede, mode a festa do Divino e ele chegô de mansim, cumo num qué nada. Eu num pudia pô a mão suj’de barro na camisa dele, branquinha que só’cê’veno. O quê qui’esse povo ia pensa de nós? Intão ele aproveito e concificô eu.

Sobre Saber Viver

O amigo Abel de Clemente (ou Calemente, como era conhecido na Tapera do em antes) era compadre de meu pai e um incorrigível bom vivant. Morava entre os distritos de Córregos e Tapera, que distam pouco mais de 10 km, e em todos os dias, fosse o clima ou estação que fosse, impreterivelmente ia aos dois. Bater papo com os amigos, tomar umas branquinhas e curtir a vida, que é curta demais para se preocupar.
Certo dia estava o meu pai carreando nas proximidades, puxando umas toras do mato para construção de uma ponte, quando avistou o Abel à caminho do povoado antes do meio dia. Louco para acompanhar o compadre, mas sem poder, brinca com o amigo:


− Que vida boa'é'essa,hem, cumpadre Abel? Indo pra rua n'ua hora destas!


Ao que o Abel, sabiamente, retruca com esta pérola filosófica de um homem que realmente encontrou o sentido da vida:


− Cumpadre Tom de Chico, pra morrê na miséria o qu'eu tenho dá  e sobra. - E continuou no embalo macio do trote da besta rumo à Tapera. 
                               Razão da Escolha do Seu Modesto

Quando ficou viúvo meu bisavô (que era boêmio, gostava de viola e de uma boa cachaça) dispensou os encantos de uma viúva compatível com sua idade, fazendeira e sem filhos, por uma mocinha com um terço da sua idade, ou menos. Chamado às falas pelos amigos, que o mandaram tomar juízo, vaticinou:


− Prefiro guentá pulo de potra, que peido de égua véia.

Uma semana cheia de boas escolhas, lembrando que a vida é curta e bom humor e gentileza é o que de melhor tem nesta senda.

Causos publicados em minha coluna DEDIM DE PROSA no portal OLHO VIVO de Volta Redonda (RJ) em 01/12/19.



2 comentários:

  1. Pra que filosofia melhor do que estas para viver? Estes, sabiam viver.Tem coisa melhor do viver e ser feliz? Encantada, com os personagens. Abracos, poeta.

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  2. Que viúva danada, adorei os personagens, consegui relaxar, assim que temos procurar levar a vida, com bom humor e gentileza.

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