Foto: Francisco Ferreira
O Curriculum
Um amigo nosso estava atravessando uma fase de extrema pindaíba, "sem dinheiro nem pra andar a pé",
ou conforme ele mesmo dizia: “sem uma
prata no borso pra cerca um padeiro”, quando chega na cidade uma
construtora, que montou escritório com um engenheiro magricela e um auxiliar de
escritório reumático, recrutando empregados para as obras de uma represa na
região. Não deu outra: lá foi o amigo se
inscrever como orêia seca. Passaram-se
três dias, nem o amigo e nem notícias do amigo, meu avô que era seu padrinho de
batismo, mandou saber dele na cidade e veio a bomba: o afilhado havia sido
preso por agressão e desacato à autoridade. O vô correu lá para tentar remediar
a situação do menino. Depois de contratado advogado, fiança paga, um sabão do
delegado e rapaz solto, era hora da reprimenda, de "inzemprá" o malfeitor. Disse:
− Bunito hem, seu porcaria, fazendo bagunça, sendo preso e
talecoisa e coisaetale, né?
No que o menino respondeu:
− Meu padrim, inté o sinhor. Inté o senhor fazia o mesmo... Fui
cunversá c'o tar de genhero, mor de pidi o imprego e ele fartô cum respeito
cumigo. Tasquei nele a mão nas fuça!
− Mas o que foi que ele fez de tão grave?
− Magina o sinhor, quel'óia preu, um home casado, pai de famía,
aponta pro culega deslá e fala: cê vai ali e dá o seu cu rico pro rapaz.
Quebrei a cara dos doise!
O vô já em tempo de explodir de rir, mas se contendo para
demonstrar zanga e autoridade pergunta:
− E o policial porque você ficou brabo com ele também?
Responde espumando, o afilhado:
− Essé otro, essé otro! Quando falei da farta de respeito, me
gozô. Disse: pro quê cocê num deu? Aí eu mandei ele a pedra noventa.
Causos publicados em minha coluna DEDIM DE PROSA no portal OLHO VIVO de Volta Redonda (RJ) em 28/10/19.
Muito legal, gostei muito da prosa, é para relaxar.
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