Foto: Deusely Fernandes
Seu Antônio do Padre – O Frasista
O Sr. Antônio
do Padre solteirão iletrado, mas de muita sapiência, vivia na Fazenda do
Morais, de propriedade de um tio meu. Criado pelos padres (daí a alcunha) era
de grande devoção, respeitador, educado e muito severo no vestir-se, não
dispensando o surrado paletó nem no desempenho das tarefas da fazenda dentre
elas, lambicar a famosa cachaça Apolo
XI, que, infelizmente não é mais produzida. Apesar da criação austera e
espartana, desde cedo demonstrou inclinação para bom apreciador de uma
branquinha, paquerador (se bem que, a maioria de suas paqueras, não passassem
de ilusões de sua mente quase inocente), valentia inofensiva, pois sempre que
se arvorava em bravatas de tiros, porretadas e facadas, não tinha adversários
em respeito à sua idade, modos e condição física. Um Quixote mineiro a bater-se
contra moinhos imaginários. Além desta figura pitoresca, foi filósofo capiau e
deixou centenas pérolas de conteúdo humorístico. Como as que reproduzo a
seguir:
Apaixonado pela Marli, uns 40 anos mais jovem, fazia vistas
grossas ao namoro da pretendida com o seu sobrinho Bastião! Teve noivado,
peditório e etc. Até que, marcado o casamento, ele não só bebeu e quis brigar,
como também se negou a ir às bodas. Consumado o inevitável e com os noivos em
viajem de lua de mel, queixou-se muito aborrecido e suspiroso: “Não despediram de mim, mas... adeus
ingrata!”
De outra feita, férias, a casa cheia de sobrinhos adolescentes
barulhentos, incomodado com o ri-ri-ri de um magote de moçoilas e rapazes, o
Seu Antônio proferiu esta: “Eu sou igual
ao Compadre João, rio sem mostrar os dentes”. Nem é preciso dizer que esta
frase, além de se tornar antológica em família, rendeu mais uma semana de
gargalhadas, para desconsolo do nobre senhor.
Ao sair para tomar umas e outras, capítulo à parte nas peripécias
do Seu Antônio, ficava logo muito valente e estufando o peito esquelético, sob
o indispensável paletó, de dedo em riste na porta do boteco do Melquíades, lascava:
"Comigo é assim: pato num bota! Se
botá, num choca! Se chocá, num tira! Se tirá num cria e, se criá, eu
mato!" E ainda na fase bêbado-valente: "Eu, sou-me eu, e jacarés é um bicho!"
E a que eu mais aprecio: bêbado-valente-romântico, muito
apaixonado, ao ver passar a Marli, cheio de sua empáfia peculiar, dizia: "Marli, minha frô de fremosura, cê é
minha e boi num lambe. Se lambê, eu cort'a língua!"
Não cortou língua de boi nenhum, que houvesse lambido ou não a mão
da sua Marli, não matou, feriu ou mesmo agrediu fisicamente a ninguém. Era
apenas um velho senhor de alma pura e sonhadora, criado pelos padres e que
partiu desta vida deixando, além de bons serviços prestados e muita gentileza
espalhada, uma série de frases e cenas que enriquecem o anedotário da família e
que, vira e mexe, alguém se lembra.
Sua bênção, Sr. Antônio dos Padres, deve estar divertindo muito a
Deus e suas falanges aí no infinito insondável . Boa semana e com muitas
gargalhadas a todos e, se virem por aí o Seu Antônio do Padre, deem-lhe um
forte abraço e digam-lhe de minha saudade.
Causos publicados em minha coluna DEDIM DE PROSA no portal OLHO VIVO de Volta Redonda (RJ) em 17/11/19.
Boa noite, lendo este causo, pode viajar no senhor Antonio ..parabéns seus causos e poemas são realmente encantador.
ResponderExcluirBoa noite, lendo este causo, pode viajar no senhor Antonio ..parabéns seus causos e poemas são realmente encantador.
ResponderExcluirKkkk.... Legal este causo e muitos outros. ..👏👏👏👏
ResponderExcluirQue belo causo parabéns
ResponderExcluirParabéns seus poemas são encantadores!💝
ResponderExcluirMuito bom este causo.👏👏👏
ResponderExcluirConhece/conviver com um Antônio do Padre é ter na vida um gostinho especial. Amo ler os "Causos" que escreve. É prazeroso, ler. Abraços, poeta.
ResponderExcluirBelo causo poeta, parabéns...
ResponderExcluirMuiti interessante o causo do seu Antônio. Parabéns!!!
ResponderExcluir😂😂😂 Devia ser uma peça rara mesmo. Adorei os causos!
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