sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Crônicas Publicadas - 002/2019



Foto: Deuseli Fernandes

Traços

Isto é inerente ao meu espírito inquieto: estar sempre destruindo meus totens para reconstruí-los mais tarde, numa tentativa de reconectar-me ao sagrado – parte espiritual de minha vida, que num dado momento, me desliguei! – Entretanto mantenho baús cheios de ídolos, representações de minha materialidade, de que, embora me queixe, não consigo me libertar. Gavetas de fantasmas...
Esta realidade me confunde e faz com que eu me esqueça de quem realmente sou, não o fruto das fantasias que criei para sobreviver. Construindo mentiras com pedaços de verdades, o avesso da realidade, minha própria mitologia. Um código secreto sem palavras-chaves que o decifrem. Fazendo-me acumular muletas que se grudam ao meu corpo como órgãos essenciais, me permitindo caminhar. Meus apêndices...
Isto fez de mim um ser triste como no sorriso do palhaço – meu próprio reflexo distorcido num espelho oxidado -. Um arremedo das possibilidades daquilo que poderia ter sido, não texto mal traduzido em papel barato, no formato de folhetim.
E mesmo cercado pela massa turbulenta de rostos conhecidos – já vistos milhares de vezes, jamais vistos ou que jamais se verão – minha alma está deserta. Ainda que em meio ao chapinhar de gentes nesta selva de pedras em estonteante velocidade, meu espírito queda-se inerte. Embora minha boca pronuncie milhares de palavras – na língua mater e em outras -, meus ouvidos as escutem e os morros as ecoem; meu coração permanece mudo. Destarte eu veja e registre cores, fatos e imagens aos milhões, meu ser tateia cego nas sombras.
O supra-sumo da solidão...

Crônica TRAÇOS publicada na antologia CONTOS DE OUTONO - EDIÇÃO ESPECIAL 2015 - Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) - pag. 11 - Rio de Janeiro (RJ) - 2015





14 comentários:

  1. Lindo demais Sr.poeta barabens .... me emocionei 😭😭😭😭

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  2. Verdade de todos nós que nos marcaremos para seguir na avenida o nosso destino comum. Tenho várias faces dentro de mim ao desfolhar os anos que percorri sofrendo. Gostei muito da crônica.

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    1. Olá, Amélia Luz, grande escritora das nossas Gerais.Emociona-me sempre com seus comentários lúcidos e muito inteligentes. Abraços.

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  3. Muito emocionante...Encontrei um pouco da minha trajetória.

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  4. "Somos apenas uma linha, neste imenso texto que é a vida!"

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