terça-feira, 8 de outubro de 2019

Poemas Publicados - 012/2019


Foto: Francisco Ferreira

Mau Olhado

Dedos de nuvens cegaram-me a súper lua
e os sessenta e oito anos de espera sem nenhum anel
ou compromissos, além da solidão no leito mútuo.
A chuva saliva no telhado despertando o banzo
no atabaque das goteiras.
A velha rã ancestral  salta, de quando em vez,
no engaiolado do peito.
O curiango além sustenta minhas promessas
de tomar-te novamente numa cama ao por do sol:
−Amanhã eu vou!
Repete sua máxima infinita mas, os três sabemos
quão mentirosas são as aves de agouro
e as cantorias de malmequer a escurecer os céus
de nossas tramas.

***

Perpetuação

Nos desvãos do chão
formiga fincou casa
e ergueu nação.

Nos devaneios da árvore
sabiá fêmea plantou ovos
e raiz de pura cantoria.

No embaixo da pedra
besouro rolou tesouros
e construiu novos escaravelhos.

Nas revoadas de lodo
mandis babam e desbabam
novos cardumes.

O sol desdobra a manhã e estende,
rega a raiz do dia
e da corda no carrossel da vida. 

***

Prosaísmo

Não sou poeta criativo
que deglute palavras e regurgita
em neologismos. Sou prosaico e raquítico.
Mas, de natureza, a Natureza é prosaica
que compõe, se compõe e recompõe
de neopoemas vegeto-minerais.
Eu, sou prosaico por natureza,
mas de natureza, poeta.

Se me manuelizo, mameluco
culpa é do meu sangue índio puro
de contaminações brasílicas.
Meu poema se debate na gira
roda na roda e “se possessa”
cavalo de santo da prosa.

Não sou poeta criativo
dos que dissecam vocábulos
e os põe a secar nas pedras
e folhas do caminho.
Não! Nenhum poeta tomou-me
Nem poeta sou-o.

***

Tédio

Vassoura de alecrim
para varrer a casa
e alguns fluidos.

Que os mortos
enterrem os seus e os fantasmas
em gavetas. Não tenho esqueletos
nos armários, só dores.

E a vida segue no compasso
da fila que, cheirando à lavanda,
anda em passos slow motion.

Nesse passo e compasso
de horas à fio, não chegará a tempo
de assistir-me a matar-me de amor.
Portanto, não chore em meu velório.


Poemas MAU OLHADO, PERPETUAÇÃO, PROSAÍSMO e TÉDIO -publicados na antologia MEUS POEMAS  - Vol. VII - Série Aquarela -pags. 33 a 36 - Organização: MARIA JEREMIAS DOS SANTOS - Grupo Editorial Beco dos Poetas e Escritres Ltda - São Paulo (SP) - 2017


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