Foto: Francisco Ferreira©
De Secas e Verdes
Cantador se quiseres cantar;
veja que te não aconselho,
os tempos são difíceis!
Mas se imperativo for,
que cantes aleluias
às alegrias da chuva nova
na poeira velha e o cheiro bom
do bom barro de telha branco.
Ou o ocre dos ceramistas,
o branco das terracotas
e o ocre dos santeiros
nos cheiros molhados dos terreiros.
Não é que te queira ensinar
o ofício – de padre dizer missa –
(longe de mim)
é que os tempos são de seca,
são difíceis.
O mundo está sinistro.
digo isto só para parecer mais jovial.
Mas se quiseres calar
(veja que não te censuro).
se acaso, porém insistires,
que cante a paz.
As harmonias de abelhas e vespas
e formigas em seu fatigar
- operárias em construção –
na produção de alimentos
e no tornar fronteiras mais seguras.
Vidas mais úteis, vidinhas miúdas...
Ah, cantador, se os governos
fossem assim, tão eficientes!
Seríamos formigas maiores
e mais úteis, te garanto!
E nossas vidas, melhores.
Não que me queira queixar
é que a seca destes tempos sombrios
tornou agreste a minha alma
e desertificou o meu espírito.
O nosso destino de veredas
é alimentar rios.
Se calado, quiseres cantar e depois emudecer,
(veja que não te pressiono, nem apresso),
já que, por ti, tenho tanto apreço.
É que nestes tempos secos
de dificuldades, cantar é dorido.
Mas se de todo, quiseres te expressar,
que cantes jardins
belezas de moral em cachos,
canteiros floridos de ética,
floradas de justiça
e leiras e leiras de democracia.
Não é que te queira
dizer o que dizer
é que aqui, ao sul do equador,
são tempos de seca,
qualquer fagulha pode atear incêndios e tiranias.
Poema DE SECAS E VERDES - publicado na ANTOLOGIA DAS OBRAS PREMIADAS NO XIX CONCURSO LITERÁRIO DE POESIA E PROSA - Patrono: NEGE ALEM - Academia de Letras de São João da Boa Vista - pags. 19 e 20 - São João da Boa Vista (SP) - 2011
Segundo Lugar na categoria Poesia Adulto.
Tu és um grandioso. ....❤
ResponderExcluirObrigado. Volte sempre.
ExcluirLindo demais Sr.poeta barabens 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado. Volte sempre, Sra. Deusely.
ExcluirTens razão, poeta. Qualquer fagulha pode destruir tudo. Melhor seria cantar os caminhos dos rios, no seu curso natural, sentir o cheio de terra molhada... Bom seria que toda crueldade fosse abolida. Seus poemas me encantam. Me fazem pensar,como tudo poderia ser melhor. Mas falta ética. ❤️📖
ResponderExcluirOlá, Vera, pena que estão produzindo fagulhas em profusão nessa pobre Nação. Abraços.
ExcluirParabéns poeta, muito lindo.
ResponderExcluirObrigado. Volte sempre, Edilena.
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