Foto: Edna Oliveira (ES)
Poetar
Não fosse a ansiedade pungente
e minha alma calaria!
Mudo espírito
contemplativo, apenas...
Não fossem os veios abertos
e as angustias jorrantes
meu cérebro – porão desabitado –
jazeria fechado
silencioso e úmido.
Não fosse o carpir infatigável
seleção de joios
no trigal da existência
e minha pena repousaria
no umbral das penas.
Mas a dor coabita e copula
em minha mente
gerando as tais flores de revolta
e poetar é preciso.
Não fosse o medo ancestral
da fera, da solidão, da morte
e a implícita ameaça da danação eterna
e bastaria o caderno de folhas virgens...
calava-me!
Inerte, posição fetal
larva, coliforme, unicelular
mas viver é imperativo!
***
Milagres da Razão
Nos jardins de Strauss
desabrocham
milagres da razão.
Na colmeia órfã
se debatem prosélitas operárias
e deslumbradas voejam
em torno da cruz iluminada
sob o foco de novíssimos neons.
Prenhes alvéolos
de néctar evolucionista
o materialismo apaga
antigos archotes.
Triunfantes, por traz dos bigodes,
de mãos dadas
Darwin e Nietzsche
sorriem enfim...
***
Apelo à Morte
Sob a Égide da Cruz
Zeus destronado já não mais pode
Provocar os vômitos de Cronos,
E o nosso destino é ser lentamente devorados!
...esperança não há!
Zeus destronado já não mais pode
Provocar os vômitos de Cronos,
E o nosso destino é ser lentamente devorados!
...esperança não há!
Quisera a sorte de Diomedes
e ser estraçalhado nos dentes
Das putas devoradoras de homens,
Mas só me resta a lápide,
O cortejo e a perene condenação!
...salvação não há!
e ser estraçalhado nos dentes
Das putas devoradoras de homens,
Mas só me resta a lápide,
O cortejo e a perene condenação!
...salvação não há!
De águas estancadas, Lete não banha
E para as sujas sombras dos mortos
Somente o repaginado reino de Hades
Num inferno de fogo.
...esquecimento não há!
E para as sujas sombras dos mortos
Somente o repaginado reino de Hades
Num inferno de fogo.
...esquecimento não há!
As algemadas Moiras não me tecem sequer um fio
E nos meus bolsos pobres
Não tilintam moedas para o barqueiro,
Reinam absolutos Momo e Oizus
E nosso único quinhão possível é zombaria e miséria...
...vida não há!
E nos meus bolsos pobres
Não tilintam moedas para o barqueiro,
Reinam absolutos Momo e Oizus
E nosso único quinhão possível é zombaria e miséria...
...vida não há!
***
Quebranto
Seus olhos
os olhos
meus...
Renderam-se
em alumbramentos
num átimo,
corrente de vento,
com sabor
de azul piscina
e o cheiro
de pores-do-sol.
Mas veio o
ciúme
o
quebranto
mau-olhado
nos olhos meus
e o azul
brando do vento
virou
vermelho descontentamento
em meus
olhos
nos olhos
seus...
E o gosto
insalubre do pranto
rolando
num pós encanto
num
fastio-inanição
cobriu de
breu, no meu peito,
os meus
olhos
os olhos
seus...
...e os
olhos do meu coração!
Parabéns 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirParabéns
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirMuito lindos! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado, Roberta.
ExcluirSão lindos, parabéns.
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirLindos .. 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirObrigado.
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