quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Poemas Publicados - 036/2019


Foto: Francisco Ferreira©

Das Infinitas Possibilidades de Voar

Não é lá que estão
o meu coração
e as estrelas?

Então não me digam
do meu olhar ausente...

Se são meus olhos
de amor distante
que se querem presentes
onde ela está!

***

De Quando Morri

Da primeira vez em que morri, vi meu povo chorar mentiras,
mas adivinhava-lhes as verdades dos pensamentos todos:
−Já vai tarde, filho de uma...

As mãos em rigidez insistiam gestos obscenos
que ao povo meu constrangia e, se persignavam,
as beatas mais lascivas e putas. Quando morri  da primeira vez.

Sobre meu peito oco um cravo meio murcho
em cuja corola copularam besouros por mil vezes
gerando outras mil larvas.
Enterraram-me às pressas sob pilhas de papéis
e rostos de alívio de fim de expediente.
Mas, daí, a morte já não me cabia mais!
Desalojou-me.

***

Do Álbum de Família

Os olhos do meu avô
Tão profundos quanto a ânsia
De enriquecer.

No sorriso da minha vó
Um ricto de dor
Advindo dos mil cintos e nós
Impostos pela Tradicional Família Mineira.

Nas caras sonsas de minhas tias
A empáfia pífia das virgens
Na sonegação
Da sacrossanta vocação das putas
Plenas da insípida sina
Das meninas de família.

A um canto, o negrinho Louro,
Meu tio emprestado
Colore com seu riso branco
O retângulo bolorento
Que me resgata a ancestralidade.

Um foco instantâneo de fastio e asco! 

***

Golpe Seco

A dor desafia a mente
desafiadoramente.

Dez afiam a faca.
Cortam rente.

Valha-me Deus

e a navalha.

Poemas DAS INFINITAS POSSIBILIDADES DE VOAR, DE QUANDO MORRI, DO ÁLBUM DE FAMÍLIA, GOLPE SECO e MAU OLHADO publicados na ANTOLOGIA POÉTICA MUNDO DAS POESIAS - Organização: ADRIANO FERRIS - VERSEJAR EDIÇÕES LITERÁRIAS - I Edição - pags.121 a 126 - São Paulo (SP) -2017.

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